Nos anos 70 e 80, em Loulé, havia um homem cuja fama ultrapassava as ruelas estreitas e os largos da vila. Chamavam-lhe Doutor Milão, embora nunca tivesse estudado medicina nem engenharia. O título foi-lhe dado pelo povo, fascinado pelas suas invenções geniais e disparatadas, como a mítica injeção contra a ferrugem, que, aplicada num portão de ferro, fazia milagres. Com a sua pronúncia carregada nos RR , explicava com seriedade os seus métodos, deixando os ouvintes entre a incredulidade e a gargalhada. Nascido nos anos 30, Aldomiro da Silva cresceu a ver Loulé transformar-se, mas nunca perdeu o seu espírito engenhoso e trapalhão. Pintor de casas sem pressa, filósofo de taberna, arqueólogo autodidata e devoto fervoroso da Mãe Soberana, conhecia cada canto da vila e cada história do Café Calcinha. Na procissão da padroeira, troteava a marcha da banda filarmónica como se fosse ele próprio um dos músicos, sentindo na alma a subida do andor à capela. Entre noitadas bem regadas, teorias mirabolantes e discussões filosóficas com os amigos, Doutor Milão tornou-se uma lenda viva. Das suas tentativas de ensinar arqueologia a crianças, à noite em que quase foi carregado num andor improvisado, este livro retrata um tempo em que a esperteza popular e o humor eram a alma das terras algarvias. Com uma escrita leve e bem-humorada, Doutor Milão é uma viagem nostálgica a uma Loulé cheia de personagens inesquecíveis e histórias que provam que, por vezes, o talento para contar histórias vale