A biografia política de Armênio Guedes (1918-2015), contra o pano de fundo da vida política brasileira e internacional no passado e nos dias atuais, é leitura imperdível. Armênio, cujo centenário de nascimento comemorou-se em maio de 2018, foi talvez o melhor formulador da esquerda brasileira, destacando-se como o firme defensor da linha de ampla unidade democrática que levou à derrota da ditadura de 1964.
Filiou-se ao PCB em 1935. Sua grande escola foi a luta contra o fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Armênio vibrou com a conquista da legalidade pelo partido em 1945-46 e decepcionou-se profundamente com a perda de rumo do PCB após a cassação de seu registro, em 1947, sob o governo do general Dutra. Aí nasceu uma divergência profunda – mas leal – com Luiz Carlos Prestes, de quem fora colaborador direto.
Neste livro Armênio relata ainda o diálogo com comunistas da América Latina e passagens por Cuba bem antes e muito depois da revolução de Fidel Castro. A vida em Moscou numa "escola de quadros". A denúncia do stalinismo por Khrushev em 1956. Os governos de JK e Jango. As vésperas do golpe. A elaboração da política após o AI-5. O compulsório exílio devido à abordagem por um agente da CIA. O governo e a derrocada de Allende, no Chile. A tragédia de seu irmão Célio, assassinado sob tortura. E uma rica experiência na Europa na segunda metade dos anos 1970.
A sabedoria de Armênio pode ser condensada assim: impedir que utopia se transforme em voluntarismo, ou, no sentido oposto, evitar que realismo vire ceticismo ou cinismo. Antes de tudo, não ideologizar a política, mas politizar a ideologia.