Com seu segundo livro de poemas, ÂnsiArte, Divino Ângelo Rola segue fiel à proposta poética inaugural, lançando mão do verso para se fazer andarilho. Um caminhante de causas nobres, de paixões contidas e de fugas obrigatórias. Assim, o poeta se apodera ora do homem urbano, valendo-se dos fatos cotidianos que permeiam a urbe, ora do homem rural, apropriando-se dos elementos naturais que envolvem o campo. Esses empréstimos enunciam lamentos e preparam quimeras que transitam constantemente entre o acessível e o inalcançável, a coerência e o paradoxo, o remoto e o atual. Dessa forma, os versos do autor trazem, por exemplo, ruas torpes da grande Belo Horizonte, de onde saltam mazelas sociais e modernidades ou a Lua como mulher, sedutora e convidativa, que lhe incita o verso. Por fim, de natureza metalinguística, seus versos estabelecem relações íntima com a vida e suas diferentes manifestações, tendo como principal instrumento o imagético, de onde surgem metáforas que recriam acontecimentos, descrevem sensações e redesenham pessoas. Nesse pormenor, o poeta apoia-se no tropo como marca crucial de seu estilo, a exemplo de autores como Guimarães Rosa e Manoel de Barros, de quem se aproxima também na recorrência, à infância, e na relação com o lugar de origem.
Suely Andrade
Professora e escritora cearense