"Karen Blixen conduz seus personagens quase como se fosse a hábil condutora de marionetes que, de repente, adquirem vida própria e lhe fogem do controle, um pouco, talvez, como Deus e suas criaturas. Mas fica nelas uma bússola. [...] Se a legenda viva de nobre europeia, que viveu na África dezessete anos, numa fazenda de café do Quênia, e que de certo modo se tornou black under the skin, lhe dá, por um lado, uma notoriedade fácil, por outro, erode-lhe as virtualidades propriamente literárias. Sucintamente, pode-se dizer que chegou à literatura pela porta dos fundos, quando abandonoua África e retornou à Europa contra sua vontade, por motivo de falência econômica. Foi esse evento o acontecimento central de sua vida e uma espécie de divisor de águas, que a fez ingressar na literatura. Outro tivesse sido o resultado econômico de sua aventura agrícola e talvez se tivesse perdido uma das maiores escritoras do século XX." (Trechos do ensaio A África perdida de Isak Dinesen, de Per Johns).