A consagrada obra Memórias Póstumas de Brás Cubas tem como figura central o defunto Brás Cubas protagonizando a narrativa; a esse signo se seguem inúmeros outros que pontuam a obra de imprevisibilidade. Muitos foram os críticos literários que afirmaram ter sido Machado se Assis um escritor que traduziu o enigma da condição humana a partir de uma linguagem simbólica; aliás, críticos do mundo todo tentam decifrar os símbolos do Bruxo do Cosme Velho, tal qual o segredo enigmático da esfinge com seu célebre "decifra-me ou te devoro". A primeira questão que nos vem à tona é: por que teria Machado de Assis optado pela imagem de um defunto como protagonista de sua obra? Por que preferiu delegar a um espécime do reino dos mortos a incumbência de narrar uma obra que ele já concebera com a precípua intenção de ser um divisor de águas, conforme depois a crítica comprovou? Neste ensaio, a autora tenta mergulhar nessa questão e sugere uma das possibilidades de leitura dessa obra tão singular que a genialidade de Machado legou à humanidade.