Amefricanizando o amor, primeiro livro de Laysi da S. Zacarias, é fruto de sua pesquisa de Mestrado, defendida em 2021, pela Universidade de Brasília. Nesta publicação, a autora propõe um encontro e diálogo com bell hooks e Lélia Gonzalez, duas potentes intelectuais do pensamento negro contemporâneo. Escrita de forma pungente e em primeira pessoa, esta pesquisa-narrativa se lança com o objetivo de pensar o amor criticamente, a partir da categoria de amefricanidade, como forma de mobilizá-lo, fazê-lo ferramenta para uma ação política libertadora. Amefricanizar o amor é, na perspectiva de Laysi, um gesto de criação, de amor à negritude, que reorienta a experiência negra no mundo a partir da constituição de laços de solidariedade e da fabulação de realidades possíveis fora dos limites impostos pelas violências raciais.
Ao mobilizar o diálogo com essas duas autoras, Laysi também abre os ouvidos e suas páginas para o som de outras vozes negras que emergem como potências criadoras de um mundo por vir; entre intelectuais e artistas, este é um texto que nos convoca para a "grande festa do batuque" que é o amor amefricano. Nesse cenário, "a poesia de tantos tambores" de nomes, como Rosana Paulino, Jota Mombaça, tatiana nascimento e Cristy Road também ressoa sob a condução de Laysi e oferecem ferramentas para se pensar o amor em sua forma mais radical e revolucionária.
A autora defende que a perspectiva revolucionária de amor – que parte da influência do trabalho intelectual de bell hooks e Lélia, da estética dessas artistas e dos tantos interlocutores mobilizados aqui – conduz à possibilidade de atualização do vocabulário político da teoria crítica dos Direitos Humanos. Em suma, amefricanizar o amor é trazer para o campo da ação e da luta uma maneira de fazer cair as bases que determinam quem é humano e quem não é, para justificar assim as opressões; é escapar da armadilha colonial que deseja minar nossa existência e afirmar a vida.
Este livro, assim como os diálogos que ele movimenta, é também um caminho a ser trilhado coletivamente em direção a um mundo porvir.