O culto às almas benditas (almas milagrosas, mártires milagrosos, etc) é muito presente em todo o Brasil. Acredita-se que pessoas mortas, em especial aquelas que vieram a óbito de forma muito sofrida (diz-se que o sofrimento expia os pecados da carne) ou as que foram boas e castas, possam interceder junto a Deus e aos Santos (em uma visão cristã) ou junto aos deuses (na visão de religiões politeístas) em favor dos vivos. Há quem diga que os milagres são concedidos diretamente pelos mártires. No Piauí são muitos os que procuram obter graças milagrosas junto às almas, cultivando verdadeiros ritos de fé a alguns finados que foram canonizados não pela igreja, mas pela gente desse estado, que os elegeu Santos Populares. Assim, fazem preces, mediante promessas, visando alcançar favores milagrosos em situações de apuros e aflições. Em agradecimento, cumprem com o prometido depositando ex-votos e orações, muitas vezes após intensa caminhada, tornando cada vez mais forte a devoção, inspirando e alimentando a própria fé e a de outros. O livro de José Gil traz um extenso rol de almas milagrosas que conseguiu identificar Piauí afora, apresentando um pouco da história dessas pessoas quando vivas, explicitando como morreram, bem com detalhes do culto dedicado a elas após sua morte. Os locais de devoção são, normalmente, lugares associados à alma, seja o ponto de sua morte, seja o túmulo em que se encontra sepultada. Ali os fiéis erguem cruzeiros, santuários e/ou capelinhas em homenagem aos seus protetores. Nessa obra, o autor conseguiu compilar um rol de 50 almas de várias cidades do Piauí: Motorista Gregório (Teresina), Auta Rosa (Amarante), Noiva Alda (Barras), Luzia Cortada (Luzilândia), Maria Alves (Pedro II), Consolação (Piripiri), Lucinha (Campo Maior), Maria das Graças (Piripiri), Maria dos Prazeres (Cocal de Telha), Mariana e Conceição (Ilha Grande), Martiliana (Novo Santo Antônio), Otília (Caraúbas), Maria Luísa (Altos), Alvina (Altos / Teresina), Sabina (Aroazes), Alice (Uruçuí), Lulú (Pau D'Arco do Piauí), Felicidade (Campo Maior), Balaios de Cruz das Almas (Cristino Castro), Revoltosos da Coluna Prestes (Valença do Piauí), Almas do Desastre (Altos), Almas do Batalhão (Campo Maior), Benedito, o nêgo do Tapuio (Pau D'Arco do Piauí), Cangaceiro Canastra (Batalha), Ciganinho Roldão (Esperantina), Calixto (Piripiri), Catirina e Martinho (Piracuruca / Piripiri), Cruz do Moleque (Campo Maior), Curandeiro Rafael (Altos), Fernandes (Altos), Frei Pedro (Alto Longá), Furtuoso (Passagem Franca / Monsenhor Gil), Homem Carcará (Oeiras), João Bernardo (Lagoa do Piauí), João Cartomante (Cocal / Parnaíba), Manoel (Altos), Mariano (Coivaras), Menino de Ouro da Pedra do Letreiro (Batalha), Pedrão (Altos), Quirino (Altos), Samuel (Cocal de Telha), Simãozinho do Cruzeiro (Coivaras / Alto Longá), Sitônio (Altos), Tertuliano (Valença do Piauí), Vaqueiro enterrado vivo (Altos), Vaqueiro do Pescoço Quebrado (Picos), Vaqueiro da Cruz da Frei Serafim (Teresina), Irmãos Romeiros (São Miguel da Baixa Grande), Irmãos Surdos (Parnaíba), Três Irmãos (Jaicós). Os dois primeiros capítulos apresentam noções sobre o culto às almas e características comuns sobre os locais de devoção. De uma forma geral, o livro, com 278 páginas, revela um pouco do cotidiano do bravo povo do Piauí, em suas lutas diárias pela sobrevivência, apresentando contexto histórico que situa o leitor no palco das histórias. A apresentação fica por conta de Rafael Nolêto (Jornalista e Relações Públicas; Sacerdote do Politeísmo Piaga - Piaganismo - e fundador da comunidade Vila Pagã - em José de Freitas, PI.