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Alguns buscam a morte, e outros, por ela são apanhados

Alguns buscam a morte, e outros, por ela são apanhados

Sinopse

Composto por narrativas curtas, O universo das paixões, dores e prazeres oscila por um espaço tenso, em que se pode discernir a busca da captura de um real urbano e cosmopolita, em que circulam personagens envoltos em tramas repletas de crimes, mortes, drogas, além de uma representação do sexo que em muito depende da violência e de um desnudamento franco que pode, por vezes, beirar o caricatural. Abordados em traços rápidos e lances que se encaminham agilmente ao desfecho, alguns personagens reaparecem de um texto a outro, o que auxilia na composição de um quadro tipificado, na abordagem do grupo social retratado. Recuperam-se traços descritivos, atitudes e mesmo soluções narrativas, em um processo de superposição de camadas que compõem uma figura coletiva final muito bem fixada. Seja no delineamento do mundo das drogas, com traficantes e mulheres objetificadas, seja na visada crua de relações familiares em decomposição ou submetidas a jogos de interesses e conflitos, sem se furtar a momentos de grande lirismo, o conjunto investe na linguagem direta e destituída de pudores, para tocar a constituição de um mundo que em tudo escapa a qualquer processo de idealização ou adequação a padrões da sociedade burguesa. De corpos esculturais, orgasmos súbitos e relações tomadas diretamente à flor da pele, passando pela descrição de tipos de algum modo apartados do mundo corrente, as narrativas se sucedem de modo vertiginoso, ancorando-se em um referencial narrativo que remete à tradição de romances e contos policiais ou de mistério, às vezes com alguma pitada de insólito. Como podem observar os aficcionados por esta vertente narrativa, muito bem constituída, aliás, na literatura brasileira contemporânea e ao longo do século XX, a linguagem direta e crua pode ser o melhor recurso para a denúncia de um mundo em que a banalização e a objetificação dos seres humanos atingiu seus limites extremos. A esse material, transfigurado pela fatura da escrita, reporta-se o livro de Luiz Carlos Santos Barreto. O volume de estreia faz suspeitar novos passos. A serem aguardados ansiosamente. Francine Fernandes Weiss Ricieri Outubro de 2019