Os vinte e sete contos de Giancarlo Reis circundam por uma epifania própria, a sensação de que, sim, a vida é esta, a vida é isso, estamos presos àquela cruel dimensão espaço-tempo e não teremos outra chance. Talvez o número 27 seja exatamente a conta dos anos de um jovem adulto, quando comumente percebe essa sensação atropelar seus sentidos. Pessoas simples, em empregos nada inspiradores, sem perspectiva de que algo possa mudar para melhor. A vida muda para melhor? "Às vezes queria fazer como esse que acaba de passar na bicicleta, os braços cruzados, sem preocupação em cair enquanto pedala pela vida". Vigias, atendentes, garçonetes, ex-formandos de uma faculdade de Turismo, motoristas de aplicativo, candidatos que passaram no concurso que não chamou. Gente que achou que poderia dar certo, que teve o incentivo dos pais e dos avós, o famoso "agora vai". Os contos de Giancarlo Reis arrancam sentimentos, sensações, percepções e resignações. A indignação já ficou para trás. Compreende-se, com a avó, que a vida pode ser apenas algo "para deliciar-se com o trabalho, com a luta e o amor". A compreensão de que "nascemos para isso e nada mais".