"Só quem não viveu não tem histórias para contar" O autor, escritor e poeta, tem a arte e o engenho de retratar essas histórias, parte vividas parte efabuladas de forma retratista e pitoresca elevando o leitor à vivência de um turbilhão de sentimentos a que não faltam pormenores peculiares e com humor. O leitor não fazendo parte da história e não tendo vivido a época retratada, facilmente se imagina no meio das suas personagens e revê de forma clara dois bairros típicos de Lisboa, Alfama e Graça. Alfama - Fados, sonhos e saudade é uma história vivida na pré-revolução que retrata de forma rigorosa as características de pensamento á época quer a nível político quer a forma como a sociedade se apresentava estratificada cialmente.A história centra-se essencialmente na vivência de duas famílias de estratos sociais diferentes que se interligamde forma hábil, ramificando-se noutras personagens exteriores como Maria dos Anjos a fadista, com o pormenor minucioso da descrição do bairro, dos seus telhados sobre o Tejo, do sonho dos seus habitantes, da descrição exaustiva dos seus habitantes e profissões há muito esquecidas, sendo um exemplo bem conseguido a descrição da azáfama das peixeiras no mercado da Ribeira.A família Ramos retrata a pequena burguesia, a família do Carmo com origem no proletariado. As duas famílias interligam-se pelos amores vividos e sentidos dos seus filhos: Carlos e Francisco com Elvira e Deolinda.A conjugação da prosa com pequenos excertos de poesia, muito bem conseguidas tornam único este livro, o quarto do autor que se aventura num estilo próprio mas que resulta com êxito.De leitura fácil e acessível revela uma nova faceta do autor que com este livro tenta reencontrar na sua recondita memória a origem da sua existência. Maria Helena Gonçalves Lincenciada em Filosofia - Universidade Nova de Liboa