Em Albergue dos Ventos, o professor e escritor Alceu Amaral da Silva tatua com sensibilidade cada página de seus contos, como quem viveu, leu, viu e sentiu a travessia de uma infância um tanto distante dos bem-nascidos, da mesma forma as memórias do personagem nos fazem refletir as adversidades sutis do cotidiano que persiste na vida de muitos cidadãos. O autor explora com intimidade o universo do personagem que dialoga com a herança ancestral viva de um corpo que procura caminhos que reduzam os anseios da alma e o bem-estar material. Entre a palavra recheada de poesia, um fio se desenrola, anunciando várias histórias possíveis e veteranas de quem, ao relatar suas experiências em um mundo conflitante, sugere o encontro de si com o outro, ainda que de modo acanhado.
Sem maiores preocupações com a forma, mas com o sentido das palavras, percebe-se que o autor, por intermédio de diálogos, se empenha em retratar sua percepção da realidade em que vive através do protagonismo de um adolescente que podia muito bem ser o autor, um aluno, um vizinho e até mesmo o teu filho.
Já nas primeiras páginas do livro, é perceptível ao leitor características bakthinianas que dizem não haver enunciação representada que não esteja conectada a uma avaliação social. É nessa perspectiva que o autor nos permite compreender a tipificação do protagonista que reconhece o espaço que habita e rejeita essa configuração como forma de sobrevivência. Alceu Amaral da Silva aparece na cena literária contemporânea para dar voz a si e aos outros.