Introdução Sou existência. Trago em mim a plena consciência do meu existir. Venho existindo em meu existir a anos. Exercitando minha existência em um existir-existindo. Mesmo no não-existir. Trazendo aos meus escritos a prática clínica de minha existência. Reflitindo o meu cotidiano em relação de vínculos aos que me cercam. Beneficiando-me da condição de escritor para criar laços e lastros que remeta a um existir de vida. Há muitos venho acompanhando a saga afetiva de Graça Chaves. Sua dor interna pela perda de seu filho, Fabio de Souza Chaves, que veio a óbito em 7 de dezembro de 2013, nesta cidade de Redenção. Tão pequeno existir, contudo, com uma existencial_idade sem tamanho. Tão intensa era a sua fome por viver. Imenso era o seu sonho e projetos de vida que ficaram suspensos, aos cuidados do imponderável tempo. Devido a sua morte. Esta, que a tudo faz. Que a tudo impõe. Um certo dia Graça Chaves me visitou. Há muitos não a via pessoalmente. Nossos encontros se situavam no plano digital, na plataforma do facebook. Grata surpresa me causou. Por sê-la uma pessoa gentil e afetuosa. Já no despedir, pois esta primeira visita foi breve, Graça me propôs escrever uma homenagem ao seu filho. Confesso que fiquei um tanto sem jeito, pois sabia, de antemão, de seu zelo quase sacrifical pela memória de Fábio. Por certo não me ateria a um trabalho tão óbvio. Pois Graça merecia algo singular. Após esta primeira visita, passando-se dias, outra visita se deu, não pude ir ao seu encontro,estava atarefado demais. No entanto, Graça encontrou uma forma de avivar a minha memória acerca do pedido que havia feito. Acho que imaginava que não o faria. Ou temeria que, por alguma razão me esqueceria. Nada disse. Apenas confirmei que estava lembrado e que, a devido tempo, entregaria o fruto do pedido. Mal sabia ela que, naquele momento já emaranhava em minha mente este projeto, que ora apresento. Salvo engano, já havia composto as três primeiras narrativas. Mas achei por bem nada dizer. Não sei qual a impressão que Graça teve. Se boa ou ruim. O certo é que achei por bem nada dizer. Hoje, dou por findo a minha tarefa. Cumpri o acordado. Em vez de apenas tão e somente uma homenagem em uma ou duas laudas de papel, quis presenteá-la em forma de livro. Com um eu-lirico Graciano em plena narração. Dispus em dez narrativas poéticas minhas impressões e percepções do sentir de Graça por seu filho Fábio. Um amor admirável que externa a complexa virtude de uma relação mãe-filho. Relação Winnicotiana beirando a fase 'eu-não-eu' tamanha dedicação de Graça pela memória do filho que se foi. Por isto escolhi com esmero os títulos das dez narrativas "Dias de chuva, Agosto, Dezembro, Sete, Saudade, Luto, Esperança, Fé, Lutador e Vida", nas quais discorro de forma breve, mas densa, minhas percepções do sentir interno exposto por Graça Chaves. Cada narrativa traz um significado único e impar Remetendo cada uma a um sentimento vivido por Graça ao longo dos posts no facebbok, em que ela faz referências contundentes (quase sempre memoriais) à Fabio. Com isso, busquei 'cavucar' a alma de Graça e trazê-la ao leitor com a sutil delicadeza que o tema requer. Possa ser que alguém irá dizer que o livro é denso, pesado, angustiante. Que rodo, rodo, rodo sem sair do lugar, feito um pintinho no meio da chuva. Confesso, foi intencional. Quis 'remoer' o sentir de Graça em um ato criativo até o tolerável. Ou aceitável. Entendo que fui exitoso. Portanto, pode não agradar a paladares poucos afeitos ao mastigo devagar. À ruminância interna que o livro propõe. Quanto a isto, agradar ou não os futuros leitores, não foi minha intenção. Este livro-homenagem foi escrito exclusivamente para a alma sensível e gentil de Graça Chaves. Por isto, havendo agrado estarei dado por cumprido, e com distinto louvor, minha tarefa. Caso contrário, fica ao escritor a lição.