"Águas revoltas" é o primeiro romance de uma trilogia do autor Luís Carmelo que volta o seu olhar singular para o Portugal profundo. A paz de uma pacata vila alentejana, com todos os seus personagens típicos e atípicos, é subitamente interrompida por uma série de fenômenos naturais, sobrenaturais e impensáveis. Uma cheia, incêndios, violência, e até um meteorito destroem o frágil tecido social da pequena comunidade. O romance traz à tona o grande medo dos portugueses: o de que um terremoto e a sequência necessária do tsunami, embora previstos genericamente, possam chegar sem aviso e, de alguma forma, interromper o viver idílico, quase edênico, dos portugueses. Numa espécie de Pompeia revisitada, na qual o autor torna-se um arqueólogo de costumes, Luís recria cada pensamento, cada atividade do cotidiano daqueles que habitam o seu país: "As pessoas adoram tragédias para se vingarem dos fantasmas que as acompanham uma vida inteira. As tragédias – comentadas pelo coro grego das mesas de café – têm ainda a vantagem de se passarem sempre com os outros. Por agora." Neste livro, Júlio, Joana, Luciano, Bendita, os casais Armando e Olinda, Fernando e Violeta, e tantos outros - cada personagem delineados pelo autor, de forma exímia e única - exibem crenças, valores e equívocos que os fazem tão humanos: o que lhes sucede quando chega o fim do seu mundo?