Águas que passam é uma narrativa bastante psicológica, ora literária, ora filosófica; que se passa no Oeste Paranaense e que tem como cenário uma casa simples à beira de um rio. Narrada em primeira pessoa, a menina de 10 a 11 anos vai contando uma história dentro da outra... Muitos personagens rústicos e realistas trazem à tona a questão do preconceito, da vida sem recursos dos idos de 1970 e da alegria pura e genuína de vizinhos agricultores e da solidariedade entre aquela gente sem posses.
Num enredo que explora o fluxo de consciência dos personagens, a menina vai desfiando pensamentos “acelerados pensamentos que nunca podiam parar...” E como quem assiste a tudo e a tudo vê, mas nada pode falar “porque criança daqueles tempos não participava de conversas de adulto, mas compreendia... ainda que no jeito de compreender de uma menina pequena da beira de um rio...” A narradora vai contando suas aventuras, suas alegrias pueris, seus medos e seus fantasmas, suas decepções ao descobrir que “uma mãe também podia mentir...” e que “ uma pessoa pode ser mais ou menos aceita dependendo da cor da sua pele...” e ainda “ então as crianças também podem morrer...?” ou: “como é que se podia viver em uma casa sem uma mãe para vir nos cobrir à noite?”
A narrativa vai se construindo, no dizer da narradora, pela correnteza do rio... É o rio o protagonista companheiro que dá à menina os sonhos e todas aquelas invencionices. É através dele que ela busca a linha mestra e, se acaso se perder de uma narrativa à outra e esquecer a principal, será ele o fio condutor que a trará de volta.
A história é narrada por uma criança e é, por seu teor filosófico e questionador, um livro para ser lido por gente grande também.