Já vi poetas transformarem-se e lançarem-se contra si o próprio olhar. Olhar este, nefasto aos espíritos atônitos e vulgares, potente e criador às mãos daquele que escreve seus versos primeiros. ÁGIL PESTE CELESTE é um manifesto poético, porventura político, contra o estéreo modelo estético racionalista e uma apologia à hybris em detrimento do logos; um sim a Dionísio e um não a Apolíneo; uma ode à embriaguez artística e ao gozo da poesia ilógica.
Gabriel Guimarães, este andarilho de caminhos alheios, nos presenteia com a perspectiva poética do seu olhar e, em última instância, como um sublime devoto da língua portuguesa, dá ao leitor um fragmento da sua tragédia ática existencial, traduzida em belas e transgressivas palavras, fornecendo-nos a oportunidade de apreciar a intrepidez e a nudez de poemas sustidos em uma contemplação minuciosa do Outro, dos Outros e de Outrem. Basta! Há algo de imponderável no entrave do escrever do poeta-músico: os primeiros poemas são os primeiros passos em direção à eternização da memória e, acrescento, das palavras.
Vinícius Barriga