Afetos urbanos – Crônicas (quase sempre) felizes é um delicioso volume de crônicas, que passeiam por bairros da megalópole, onde afetos se constroem e se diluem ao sabor da chuva ou do semáforo que obriga o pedestre a apressar o passo com sofreguidão. Mais que o olhar, o coração do autor perscruta a vida de personagens que se cruzam, se esbarram, se empurram, se agridem ou se abraçam, a exemplo da crônica Fire and Rain, na qual, em uma noite de tempestade, um executivo de multinacional, surpreendido pelo imprevisto, é forçado a se abrigar num bar de periferia em que a música ao vivo rola a pedidos, enquanto aguarda o socorro a seu automóvel importado, falhado no meio do, para ele, nada. Aqui, ao som do músico que intui a "encalacrada" em que o executivo se meteu, a diferença social se dissolve a cada acorde da balada de James Taylor: o medo dá lugar à fraternidade e a transformação ocorre no coração do CEO, empedernido pelo dinheiro e pelo poder econômico. Obviamente não se vai aqui além do que se disse, para que se mantenha em segredo os desdobramentos e o final surpreendente dessa crônica que, para júbilo do leitor, é uma, de um belo conjunto de quatorze.