O filósofo deixou planos para a organização dessa obra que não pôde completar e chegou a agregar subtítulos que assinalam a sua ambição: ?Tentativa de uma transvaloração de todos os valores? e ?Tentativa de uma nova interpretação de todo acontecer?. Em abril de 1884, escreveu a um amigo: ""Pretendo empreender uma revisão de minha metafísica e de meus pontos de vista epistemológicos. Passo a passo, tenho agora que atravessar uma série de disciplinas, pois me decidi, daqui para diante, usar os próximos cinco anos no acabamento da minha ?filosofia?, para a qual construí uma antecâmara com o meu Zaratustra.""
A questão da autenticidade dos textos já foi superada, mas nunca saberemos como o próprio Nietzsche os organizaria se tivesse redigido a versão definitiva. Por isso, escreve Gilvan Fogel na apresentação: ""É preciso que vejamos tal obra [A vontade de poder] como uma rica antologia de textos nietzschianos tardios. Diria Nietzsche, dardos, flechas lançadas contra nós, a nós... Que dardos! Que flechas!"" E prossegue: ""A década de 1880, na vida de Nietzsche, constitui o período de maior lucidez, de maior intensidade, de maior poder. É quando seu pensamento está mais afinado com a gravidade de sua tarefa e mais afiado para sua consecução. Essa lucidez coincide com a cunhagem do pensamento ?vida como vontade de poder?.""
A obra que aqui traduzimos oferece, pois, a possibilidade de se descortinar o pensamento do filósofo em seu período mais maduro, mas nela esse pensamento não está acabado e sistematizado. Aparece sob a forma de 1.067 fragmentos textos curtos, parágrafos, aforismos que mostram suas ideias tal como surgiram, quase sempre perturbadoras e frequentemente geniais.
César Benjamin"