A vida na Grécia é o que se chama nos estudos literários de “romance de formação”, isto é, uma obra que acompanha o trajeto de vida de um mesmo personagem, da infância até a fase adulta. No caso, o personagem Manuel, que aparece inicialmente na infância e vai se revelando uma personalidade tímida, dotada de uma sensibilidade muito aguçada que lhe impede uma interação fácil com a maioria das pessoas e com o mundo. A “Grécia” do título se refere precisamente a esse desajuste, a esse “lugar distante” em que Manuel vive, muito dentro de si mesmo. O romance é também um exercício de linguagem consciente, com exploração sem limites das possibilidades expressivas da língua. Essa linguagem acompanha o próprio percurso de Manuel na direção de seu objetivo de vida, que é tornar-se escritor. É essencialmente um romance intimista, em que cada capítulo captura o personagem num momento dado da vida, sem uma continuidade cronológica rigorosa.