Esta dissertação visa a discutir e refletir sobre o tema viagem a partir de dois conceitos: o deslocamento e o despaisamento. A viagem é vista como um processo, uma jornada que se dá por duas vias, a física e a metafórica. Trata-se aqui de compreender tais conceitos com base em ideias dos teóricos Michel Onfray, Renato Modernell e Alain de Botton, principalmente. Parte-se de termos como espaço e tempo, dimensão e intervalo; é apresentado ainda um terceiro entendimento, o do processo de individuação. Este comporta as forças afetivas e efetivas – emocionais e morais – das experiências vividas pelo indivíduo na viagem da vida, no constructo de sua subjetivação. Assim, tomada como ação que exige uma locomoção – o sair de um lugar para outro – e um translocamento – uma mudança de contexto –, a viagem é abordada como o viver de uma experiência que não somente nos desloca, mas também nos transforma. Nossas vivências e os sentimentos nelas compreendidos, nossas escolhas e atitudes éticas e morais, nos mudam a cada passo, como seres históricos, sociais e culturais que somos, em constante experimentação e ressignificação de nossos olhares e de nossas perspectivas. Os conceitos são usados para a análise de dois romances de Carola Saavedra – Flores azuis (2008) e Paisagem com dromedário (2010). São referidos também os estudos de Aleida Assmann com relação à memória, recordação e lembrança. A viagem é analisada, identificada e explorada como processo físico e metafórico.