Através do cristianismo, do hinduísmo e do zen, Hermann Hesse, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, apresenta em A unidade por trás das contradições sua concepção de religião em uma série de ensaios, poemas e cartas.
A austeridade da família de pastores protestantes levou Hermann Hesse a questionar, desde cedo, a religião. Dividido entre a expressão artística, a espiritualidade e a experiência burguesa, foi fortemente influenciado, ainda, pela psicanálise. A diversidade de ideias e conceitos o levou a uma viagem de autodescoberta através da literatura, que pode ser vista em livros como Sidarta e O Lobo da Estepe, mas que encontra sua maior expressão na seleção de textos de A unidade por trás das contradições: religiões e mitos.
Nesse livro, Hesse reúne as observações sobre as formas humanas de devoção. Ele disseca o que há de comum em todas as crenças, aquilo que se encontra acima das diferenças nacionais ou culturais e que pode fazer parte da fé de qualquer indivíduo e de qualquer raça. São impressões e imagens das mais remotas religiões e mitos da humanidade, dos antigos egípcios, de chineses, de budistas, de cristãos, de muçulmanos ou das modernas formas de ideologias religiosas.
O conceito de graça está fortemente presente. A partir da ideia do mundo como um todo, uma unidade divina à qual devemos estar conectados para alcançar a felicidade, nos deparamos com a possibilidade de, por trás de todo erro, apesar de toda falha, nos desconectarmos do ego.
A vida só adquire significado quando se deixa para trás uma busca ingênua pelo prazer egoístico e se atribui a ela uma servidão — a uma religião, a uma filosofia —, pois, como afirmaHermann Hesse, é nesta servidão que brota seu sentido. Ao encontrar esse sentido, encontra-se a unidade por trás de tudo que existe. Afinal, "a humanidade, embora ainda dividida em raças e culturas estranhas e hostis entre si, é uma só e possui possibilidades, ideais e objetivos comuns".