A trama revelada neste livro nunca mais sairá da sua cabeça, ela representa em síntese a disputa pelo poder. Quando um grupo esta no poder, outros confabulam derrubá-lo e para isto pregam que o governante é tirano, desonesto e apontam toda sorte de defeitos, mas quando chegam no poder, com certeza farão coisas ainda piores. Isto acontece no governo secular, na religião, no trabalho e em todas as relações humanas, porque os homens tem a natureza má e pervertida, além de ter o dom inimitável da falsidade e hipocrisia, capaz de acreditar em sua próprias mentiras para chegar ao poder.MÁRCIO SENNE DE MORAES, no periódico da Folha de S.Paulo, em 2003 deu uma síntese desta obra, fazendo as respectivas analogias da fábula com os personagens do comunismo soviético que tomei a ousadia de transcrever porque retrata bem o valor desta obra que para mim é PROFÉTICO:À primeira vista, “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell --que chega amanhã às bancas--, é só uma genial sátira à Revolução Russa (1917). Sua narrativa relaciona pessoas, animais e eventos às transformações ocorridas na Rússia (ou URSS) no século 20. Todavia, embora Orwell tenha buscado mostrar uma época específica, sua obra pode --e deve-- ser vista como uma alegoria a qualquer revolução em que os mais fracos tomam o poder e, em seguida, são por ele corrompidos.A ação ocorre na Granja do Solar, dirigida pelo Sr. Jones, que tem sérios problemas de alcoolismo e maltrata seus animais. Publicada em 1945, no auge do regime stalinista, “A Revolução dos Bichos” já começa com essa alusão ao final do czarismo. Afinal, o czar Nicolau 2º era conhecido por seu pouco apreço pela população, preferindo falar francês a russo, segundo relatos históricos, e tinha uma queda pelo álcool.Não faltam paralelos entre personagens do livro e da Revolução Russa. O velho Major, porco sábio e professoral, é uma mistura de Karl Marx, famoso por ter transmitido suas crenças socialistas por meio de textos, repletos de conteúdo revolucionário, baseados na economia e na filosofia, com o Lênin idealista do princípio da revolução. É Major que espalha as sementes da revolução na Granja do Solar, que se tornará a Granja dos Bichos.A exemplo de Marx, foi só após a morte de Major que seus ideais igualitários foram aplicados. Aí surgem Bola-de-Neve e Napoleão, os dois porcos que comandarão o levante dos animais contra o Sr. Jones. Napoleão, partidário do totalitarismo, foi criado para representar Stálin, o mais sanguinário dos líderes soviéticos. Bola-de-Neve tem destino similar ao de Trótski, transformando-se, à custa de muita propaganda, no “inimigo da revolução”.Os cavalos Sansão e Quitéria representam o proletariado. Sem acesso às informações, eles crêem no que lhes conta Garganta, porco que é uma alegoria aos sistemas de propaganda dos regimes totalitários (um tipo de “Pravda” de quatro patas). Sansão é a encarnação irracional do mito criado em torno de Alexei Stakhanov, o mais famoso trabalhador soviético por seu empenho e por sua dedicação