O objetivo neste trabalho é analisar as principais ações estatais argentinas e brasileiras, aplicadas no setor ferroviário após a Segunda Guerra Mundial: desde as décadas de 1950 – quando se iniciou efetivo rearranjo do modelo de negócios ferroviários fundamentados em estatização do sistema, nestes países - até a década de 1990 (e anos seguintes) quando, por meio de renovadas concessões, as empresas férreas em ambos os países foram devolvidas ao controle da iniciativa privada. Argumenta-se neste trabalho que em ambos os países se consolidaram situações atípicas no setor: as concessões das estradas de ferro, embora públicas, passaram a atender a interesses cada vez mais privados. Embora diversas análises sociológicas e econômicas argumentem que após a Segunda Guerra Mundial ocorrera o "fim da era ferroviária" a hipótese aqui defendida é que estas empresas férreas não foram simplesmente desmanteladas seja por ações estatais antiferroviárias ou por falta de visão nacionalista destes governantes. Na verdade, as ferrovias argentinas e brasileiras – seja por ações dos respectivos Estados, seja por mudanças estruturais do mercado de transportes em que elas operavam, passaram por um longo processo de reinvenção de seus modelos de negócios. A encampação do sistema tratou-se de um daqueles momentos em que o setor ferroviário deixou de ser lucrativo aos investidores privados. Na década de 1990 o cenário era outro: os investidores privados voltaram-se novamente ao setor, numa prova inconteste de que aquelas empresas eram muito mais do que ferros-velhos que haviam entrado em decadência na década de 1940.