A tecnologia nuclear apresenta como aspecto intrínseco às finalidades pacíficas, uma sinistra peculiaridade: a capacidade de construção de artefatos bélicos aos detentores do domínio do ciclo completo do combustível. Assim, na discussão acerca do tema nuclear existe uma inevitável e, às vezes, ingênua naturalidade de todos nós ao julgarmos a questão, tão marcada pelo caráter quase que indissociável na distinção dos verdadeiros intuitos que levam ao domínio desta tecnologia. Desde o advento da era nuclear em 1945, a questão nuclear no Brasil sempre apresentou-se de forma dependente e atrelada a interesses norte-americanos. O debate sobre a questão também se dividia entre o grupo nacionalista, que defendia o desenvolvimento próprio e a participação estrangeira de forma cooperativa, e grupos que, amparados na posição brasileira de mero exportador de matérias-primas e parceria benevolente com os Estados Unidos, defendiam a vinculação irrestrita com os norte-americanos. A trajetória brasileira de políticas públicas neste setor tem como principal característica as constantes mudanças de governo a governo que não permitiram o cumprimento de perspectivas com longo alcance e o consequente desenvolvimento nuclear brasileiro. A colaboração externa, principalmente norte-americana, não lograria êxito nos objetivos programados de desenvolvimento no setor. Ao contrário, as resistências e impedimentos criados pelos Estados Unidos limitavam as possibilidades brasileiras ao não oferecerem contrapartidas reais de evolução tecnológica para o Brasil em troca da exportação das matérias-primas atômicas brasileiras. Assim, esta obra tem como objetivo demonstrar que a assinatura do acordo nuclear entre Brasil e Alemanha Federal de 1975 é fruto de uma articulação entre uma iniciativa histórica de mais longo prazo marcada por avanços e recuos com fatores conjunturais externos e internos propiciados pela busca de uma política externa independente de ímpeto nacionalista e presente no projeto de potência do regime militar.