Uma característica notável da filosofia do século XX foi sua atenção à linguagem. Reflexões sobre a linguagem perpassam toda a história da filosofia e, possivelmente, não há autor de relevo que não tenha tecido considerações filosóficas sobre esse tema. O distintivo do século passado foi a centralidade que a linguagem ocupou no fazer filosófico. Já no início do século, Wittgenstein nos dizia que toda filosofia é crítica da linguagem; e décadas depois, vimos Heidegger afirmar que "é a palavra que confere ser às coisas". A tradição filosófica continental, que se inspirou nos trabalhos de Heidegger, continuou, em nosso século, a trilhar os caminhos da linguagem. A tradição analítica, no entanto, herdeira de Wittgenstein, não se manteve nas mesmas veredas, e assistiu às investigações sobre a linguagem cederem espaço à metafísica e à filosofia da mente. Este livro nasceu de suspeitas sobre essa recente mudança de rumos dentro da tradição analítica, e neste livro esboçamos algumas razões para nos mantermos fiéis às trilhas passadas. Essa tarefa é realizada por meio da apresentação da posição de um eminente defensor da centralidade da linguagem na reflexão filosófica, o filósofo inglês M. Dummett. Sua posição recebeu ataques diretos de Evans, Peacocke e McDowell, e tentamos mostrar como esses ataques não são bem-sucedidos. Este livro, assim, se junta modestamente aos esforços de tentar explicar por que a filosofia analítica não deveria ter abandonado sua metodologia anterior.