Neste título, Júlia Lopes de Almeida reúne duas histórias centradas em famílias que enfrentam momentos inesperados. Em ambos os contos, pequenos gestos desencadeiam situações que expõem fragilidades e contrastes entre gerações, mostrando como vínculos próximos podem se transformar diante de escolhas impensadas, memórias falhas ou expectativas que não se cumprem.
Em "A primeira bebedeira", a autora acompanha um jovem que experimenta o álcool pela primeira vez e acaba tomando atitudes impensadas. Entre impulsos e exibicionismos, ele magoa a moça por quem sente interesse e se afasta da mãe justamente no dia do aniversário dela. Quando as consequências daquela noite aparecem, ele não demonstra arrependimento nem tenta desfazer o que fez, mas ainda assim é a mãe quem o ajuda, revelando um cuidado que permanece mesmo diante da ingratidão do filho.
Em "A boa lua", surge o centenário tio Samé, que já esqueceu nomes, datas e histórias inteiras, mas conserva com precisão o momento certo de plantar. A família, impaciente com suas manias e distrações, recorre a ele sempre que precisa desse conhecimento, usando sua memória seletiva como ferramenta mesmo quando pouco se importa com o resto de sua vida. Entre falhas de lembrança e lampejos de uma sabedoria antiga, o velho segue ocupando um lugar ambíguo na casa, respeitado apenas quando convém.