A aproximação entre literatura e cinema, desde a invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière no final do século XIX, tem se revelado profícua. Com o desenvolvimento da arte cinematográfica, cuja estética estava em sintonia com o advento da modernidade, estabeleceu-se, por parte de outros campos artísticos, em especial o literário, uma espécie de elogio estético ao cinema, sintonizado com as transformações efervescentes da vida moderna, que poderiam ser sintetizadas pelo dinamismo de sua imagem. Esta obra apresenta, portanto, um estudo acerca da presença da linguagem cinematográfica no romance brasileiro, desde a vanguarda modernista até a contemporaneidade, elegendo, para isso, obras representativas dessas relações: Amar, verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade; Caminhos cruzados (1935), de Erico Verissimo; Perto do coração selvagem (1944), de Clarice Lispector; Em câmera lenta (1977), de Renato Tapajós; Bandoleiros (1985), de João Gilberto Noll; e Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (2005), de Marçal Aquino. Pretendeu-se, a partir da leitura dessas obras, compreender em que medida a incorporação de procedimentos cinematográficos afetou estratégias de escrita na prosa de ficção. Assim, tem-se como hipótese a ideia de que o cinema, enquanto linguagem, permeou a produção literária brasileira, desde a vanguarda modernista, como um sintoma de uma mudança na percepção de mundo, e essa presença continua até a literatura produzida contemporaneamente.