Assim como eu e você, todos foram e ainda são idiotizados pela política, esta que sempre precisa, além dos idiotas, de imbecilizar-nos coletivamente para assim sermos um imbecil-coletivo-idiotizado, para facilmente sermos manipulados e manipuláveis. Não obstante, parece que nos deixamos fazer de idiotas porque gostamos dessa pueril ingenuidade de acreditar que viveremos em uma plenitude de felicidade, recalcando assim nossas disfunções, perturbações, ambições, invejas, egocentricidades, enfim, os mais pudendos vícios. Gostamos de alimentar nossa vaidade narcisística-egolátrica, numa fuga de si mesmo e da realidade de encarar que não somos e nunca seremos bem resolvidos, e que somos frustrados, decepcionados, insuficientes e incapazes. Permitimo-nos ser ludibriados e iludidos, como se fosse uma coerção sem o uso da força, numa espécie de "consenso", deixando que outros confisquem aquilo que é mais valioso em nós, que é nosso caráter, nossa autonomia intelectual, nossa singularidade única e exclusiva que nos faz ser indivíduos pensantes. Deliberadamente nos deixamos tolher, reduzindo a nossa existência a uma mediocridade desprezível, mesquinha, sórdida, torpe e abjeta. Nossa identidade existencial é execrada por nós mesmos, oferecida à venda no atacado e no varejo, ou leiloada, arrematada para quem pagar mais.