Ao ler esta obra, fui enredado pelas tramas literárias que se fizeram reais nessa tessitura. Assim, fui tomado de assombro quando a autora outorgou uma erótica da negatividade, conceito pouco alheio às propostas hodiernas que ascendem sob o aspecto de uma eterna positividade que, ao olhar atento, torna-se, por demais, pueril.
Quando percebi, senti-me fisgado pelos encantos de uma formulação, a mim inédita, sobre o masoquismo. Um viés que constitui uma erótica da passividade como um canto que se assemelha muito ao de seres mitológicos ao qual o marido de Penélope foi enredado. Assim, como o herói da Odisseia, vi-me envolvido pela composição dessa narrativa e ansioso por um desfecho, ainda que de uma perspectiva de confessa estranheza de minha parte.
De fato, a obra cumpriu seu objetivo de me levar aos entremeios de minhas concepções de mundo e perceber que a passividade, que eu acreditava ser a grande característica do masoquismo feminino, pode ser um jogo erótico que foi desvelado pela autora, utilizando, como estofo teórico, o criador da psicanálise. Creio que, ardilosamente, a trama entre conceito, literatura e realidade feminina foi, sem sombra de dúvidas, a construção mais formidável da autora que, como uma Penélope contemporânea, constituiu um enredo que, embora imbuído de um caráter técnico-científico, alcançou o posto de poesia e me transformou em um leitor reflexivo das ações dicotômicas femininas que (en)cantam o objeto de seu amor.
Wilson Alexandre Gonçalves