Um viticultor, certa vez disse: "O que mais atrapalha a popularização do consumo de vinhos, é a turma dos conhecedores de vinho. Eles complicam tanto uma coisa tão frugal, que as pessoas acham que para desfrutar dessa bebida, têm de conhecê-la profundamente". Entendo acontecer isto também com a psicanálise, mormente a lacaniana. Na maioria das palestras e cursos dos quais participei, senti-me em terra estrangeira. Era uma outra língua, já conhecida como "lacanês". O próprio Lacan contribui para isso. Seus ensinamentos não são fáceis de serem apreendidos. Para mim, ao menos, sempre foi necessária a ajuda de outros autores ou de mestres competentes para ir abrindo trilhas neste percurso. À medida, porém, que vamos nos apropriando da teoria e corroborando- a na prática do consultório, creio ser possível repassar estes princípios de uma maneira mais amigável. Como o conhecedor de vinhos acima, que, por entender da teoria, pode dar-se ao luxo de simplesmente escolher o bom vinho apenas pelo seu paladar e bebê-lo com os amigos, por puro prazer. Os amigos, que talvez nunca tenham tomado contato com esta bebida, podem passar a amá-la e, por amá-la, poderão querer conhecê-la mais profundamente. Assim creio também poder ser com a psicanálise e é este o objetivo deste trabalho: apresentar os conceitos mais importantes da psicanálise freudiana e lacaniana, como ego ideal e ideal de ego, inconsciente, fantasia, objeto a, neurose, psicose e perversão, significante, trauma, transferência, entre outros, e assim possibilitar que mais pessoas tomem contato com ela, porque percebem que ela pode ser mais um prazer em suas vidas. Depois, com o tempo, podem complicá-la. E, dialeticamente, novamente simplificá-la.