Crônicas costumam ser textos curtos e de duração efêmera, tratando de acontecimentos corriqueiros e do cotidiano. São como ondas do mar que se formam, às vezes prometendo um grande estrago, às vezes apenas um suave movimento aquático. Essa Onda que a escritora Dani Del Guerra nos brinda mostra-se um verdadeiro tsunami devastador; um maremoto celacântico, como afirmavam as antigas mensagens grafitadas na década de 70. Embora se apresente como crônica de um povo em busca de um pai, revela-se uma ficção histórica trágica repleta de metáforas relativas às terríveis vicissitudes de um país e de um povo supostamente distante e esquisito, mas que de cara o leitor constata ser algo que lhe é profundamente familiar.
O texto dessa Onda é brilhante, pois, ao mesmo tempo, dialoga com profunda ironia fatos já bastante conhecidos e propalados pela pesquisa histórica acadêmica contemporânea e personagens ficcionais grotescos em suas verossimilhanças com outro povo e país que conhecemos muito bem. Vale ler numa única empreitada, pois é uma escrita da qual não se consegue largar. Uma Onda que se surfa com prazer até o fim.
Cid Prado Valle