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A Mocinha Com O Seio Queimado.

A Mocinha Com O Seio Queimado.

Sinopse

Outono, ano quarenta e dois do século vinte – mil novecentos e um a dois mil – é vinte de março quando um espermatozoide errante, tipo X, dentre trezentos milhões, alcança um ovulo na menos errante que desliza no interior da Trompa de Falópio, e, unindo-se a ele se transforma em um zigoto, que vai, futuramente, desenvolver um embrião. No caminho da eternidade surgira um novo ser a partir daquele zigoto? Com certeza! Não haveria duvidas! Aquele embrião inocente não sabe, mas tudo já fora providenciado, pois, por determinação da Criação há de viver por um período de longos duzentos e setenta e um dia aos duzentos e noventa dias, como uma espécie de parasitas, alimentando-se por intermédio de um cordão umbilical, mergulhado em uma piscina provida não com agua, mas, com liquido amniótico, a vida intrauterina. Considerando-se que o embrião não detém a prerrogativa da Juris Personalis, contrataram para ele o aluguel de um quartinho quente e aconchegante, sob a modalidade prevista nas regras do direito civil e conhecida como comodato, dotado com cortinas em tecido especial, aveludado, na cor vermelha sangue e uma piscina não com agua, mas com outro liquido que, mais tarde, aquele embrião haveria de conhecer por liquido amniótico. O referido contrato de aluguel – na modalidade Comodato – fora firmado, em sua condição bilateral pela proprietária e o ocupante daquela espécie exótica de imóvel, representado por um único cômodo diminuto com a dimensão de uma pera ou de uma das mãos humanas fechadas, denominado útero, sem direito a renovação, ainda que fosse automática, devendo ser, sumariamente, resilido ao decorrer dos duzentos e noventa dias de prazo máximo. Naquele quartinho quente e aconchegante o hospede, no interstício dos duzentos e noventa dias, talvez um pouco menos, receberia, graciosamente, a alimentação da qual necessitasse para se desenvolver, as vestimentas, as roupas destinadas a forrar a caminha onde dormiria o sono dos aspirantes a vida extrauterina, mas não poderia ver a luz cósmica porque naquele aposento não teria janelas, somente uma porta que se abriria quando resilisse o contrato. A alimentação e os líquidos providenciais para a vida lhe chegariam por intermédio de uma sonda especial, que permaneceria atrelada ao seu corpinho em formação, e somente seria extraída no momento em que providenciasse a resilição do Instrumento Contratual, na modalidade de Comodato, substituindo a vida intrauterina pela vida extrauterina. Sentiria medo no momento de transição desses tipos de vida porque o seu corpinho frágil e inseguro, sofreria uma espécie de terremoto que o faria tremer e se encolher aos cantinhos aquele antigo quartinho quente e aconchegante, agora improprio para habitação. Mas, isto seria inevitável... Desejaria continuar por ali, prorrogar o período contratual, mas, de acordo com a cláusula prazo, daquele instrumento contratual, não seria possível a renovação por um novo período e, assim, não haveria argumentos plausíveis nesse sentido. Acuado, o personagem veria, a cada instante, as intempéries daquele terremoto se intensificarem e, de repente a porta, que permanecera sempre fechada, como se fosse uma espécie de um túnel, a princípio obscura, se abriria a sua dianteira. O que seria aquilo? Refletiria, ainda; quando um empurrão mais forte provocado pela intempérie, que se assemelhava a uma serie ininterrupta da espécie de terremotos, lhe empurrara de encontro a abertura, fechamento, sabe lá; daquele túnel exótico e estranho que, agora, se abriria perante os seus olhos. Naquele temor momentâneo pelo desconhecer do que acontecia, sentiria que a sua cabecinha se comprimiria na altura das duas têmporas sem sequer saber que se tratavam das moleiras laterais, que se comporia aos três meses, pressionadas pelas paredes daquele túnel, se fechavam para facilitar a sua passagem.