Em A menina da botinha, a autora desenvolve um enredo marcado por situações cotidianas que prendem a atenção do leitor e promovem uma série de reflexões sobre a diversidade humana, especificamente ao tratar das singularidades que constituem a condição de ser no mundo da pessoa com deficiência. Do início ao fim, a autora vai pintando um painel de lembranças sobre a infância, sobre as expectativas e apreensões vivenciadas no decorrer de três cirurgias para a correção ortopédica dos pés. Faz uma incursão pelas transformações típicas da adolescência, reforçando a importância da escuta e cuidados por parte das instituições de ensino e compartilha alguns aspectos da afirmação da sua própria identidade. É nesse contexto que ela projeta as primeiras cenas do quadro que vai sendo construído, a partir da primeira viagem no trem do Pantanal, inaugurando, assim, a primeira das muitas viagens que fizeram parte da composição da sua própria história de vida. Reconhecida com poemas premiados, a autora estreia com uma narrativa mais densa, trazendo para a literatura o debate sobre a inclusão da pessoa com deficiência, descortinando alguns recortes dos desafios enfrentados diariamente pela família e apontando a importância de uma rede de apoio, inicialmente instaurada por meio dos atendimentos clínicos. As experiências vividas deixaram marcas na Menina da Botinha, assim como ela também deixou sua marca na vida de quem compartilhou momentos, lugares e conversas ao seu lado. E certamente marcará a memória daqueles que embarcarem nesta instigante leitura, que, ao final, nos
envolve ainda mais com a maestria da menina que se tornou poetisa. Desse modo, a menina da botinha que nasceu na fronteira oeste do Brasil com a Bolívia, distante dos grandes centros, compartilha com os leitores de norte a sul do país parte da jornada desenvolvida e os desafios que foram sendo superados e que, possivelmente, são vividos por outras pessoas com deficiência no país.