"Como é belo um livro, que foi pensado para ser tomado nas mãos, até na cama, até num barco, até onde não existam tomadas elétricas, até onde e quando qualquer bateria se descarregou. Suporta marcadores e cantos dobrados, e pode ser derrubado no chão ou abandonado sobre peito ou joelhos quando caímos no sono". Essa declaração de amor é a síntese de A memória vegetal, de Umberto Eco ― um dos mais importantes intelectuais da atualidade. Com sutileza, humor e habilidade, Eco reúne reflexões sobre o antigo e fascinante mundo dos livros, a bibliofilia, a memória e a alegria da leitura. Neste volume refinado e elegante, Eco traça um elogio às bibliotecas e aos livros, desde os papiros até os dias atuais, e desmistifica a noção de que é preciso muito dinheiro para ser um colecionador. Lista, ainda, os inimigos dos livros, os agentes de uma morte prematura: brocas, cupins e o mais assustador, a ignorância do próprio homem. Afirma que IPads e Kindles são apenas uma evolução ― as páginas podem não ser mais de papel, mas o livro permanecerá o que é. Revê algumas obras, conta histórias, redefine critérios de valor, leva-nos ao mundo mágico das letras impressas. Da memória orgânica, registrada e organizada pelo nosso cérebro, até o aparecimento da escrita, ele acompanha as mudanças na apreensão, e compreensão, do conhecimento. Os livros são os nossos anciãos, nossa memória vegetal. A memória histórica escondida entre parágrafos é a nossa própria memória, nossa capacidade de refletir. Um seguro de vida, uma pequena antecipação da imortalidade. Diante do livro, procuramos, mais que decifrar, interpretar. É através da memória vegetal do livro que podemos recordar não apenas nossas brincadeiras de infância, mas também as de Proust. Paixões, desejos, sofrimento, alegria, tudo pode nascer da leitura. A leitura se torna um diálogo com alguém que não está diante de nós. Um diálogo que a qualquer momento evoca lembranças e conhecimento, emoções e experiências, de outra forma perdidos. É isso que Eco, com a leveza de quem tem uma cultura sem fronteiras, resgata do esquecimento em A memória vegetal.