Nos contos que compõem o livro A mãe e o filho da mãe, o escritor mineiro Wander Piroli retrata o cotidiano urbano dos anos 1950 e 1960, marcado por uma tensão social que se avoluma junto às desigualdades de classe. As relações humanas esfarelam-se empurradas por uma força invisível, opressora, cujo gatilho é, quase sempre, a violência extrema. As histórias – prosaicas, porém limítrofes – fazem coro ao lamúrio de Bigode, personagem do conto "Você acredita em Deus": "É assim. Hoje em dia a gente já não pode se interessar pelos outros". O caráter ambíguo de Bigode – interrogador que desenha margaridas enquanto assiste à tortura de um suspeito – é atributo inato aos personagens da obra. Sob esse tecido social esgarçado, em decomposição, Piroli faz ver o que não mais se vê, sentir o que não mais se sente. Traz à superfície a angústia do seu tempo e do que está por vir.