Encomendada pela Guilda dos Cirurgiões de Amsterdã, A lição de anatomia do dr. Nicolaes Tulp foi a primeira obra importante de Rembrandt – a primeira a ser assinada apenas com seu primeiro nome –, uma das pinturas responsáveis por lançar o jovem artista ao reconhecimento universal e tida como um dos trabalhos mais revolucionários da história da arte.
Tendo o quadro como inspiração, a autora Nina Siegal percorre um dia em 1632 em que seis histórias se entrecruzam na capital holandesa. Da manhã da execução pública, em que o ladrão de casacos Aris Kindt espera sua vez de subir ao patíbulo e atender à sede de sangue da população no aguardado Dia da Justiça, ao grande evento daquela noite: a dissecação de um corpo no anfiteatro de anatomia da cidade.
Pelos seus pontos de vista alternados, acompanhamos Flora, a jovem grávida de Aris, que tem esperança de salvá-lo das mãos do carrasco, ou ao menos resgatar seu corpo e garantir ao amante um funeral cristão; Jan Fetchet, um colecionador excêntrico que trabalha na obtenção de cadáveres para dissecações; o filósofo René Descartes, que presencia a dissecação no esforço de sua busca por entender a essência da alma e do corpo humano; o cirurgião Nicolaes Tulp e sua ambição irrefreável; e o próprio mestre holandês, que, aos 26 anos de idade, diante dos acontecimentos ao longo do dia, é levado a fazer mudanças profundas em sua composição inicial.
E, já nos dias de hoje, a historiadora de arte Pia de Graaf, ao trabalhar na restauração da pintura, revela os mistérios de uma cena histórica e seus personagens, entre figuras proeminentes e o quase anonimato de um corpo.
Com uma sutil e minuciosa reconstituição de época, aliada a uma narrativa envolvente como um suspense contemporâneo, A lição de anatomia oferece uma saborosa porção da história, sugerindo como a arte e a ciência muitas vezes esbarram seus caminhos na brutalidade.