Escrevo como um sujeito do passado escreveria para um sujeito do futuro. Sou eu o presente, mas não sou mais, e ainda o sou enquanto não sendo. E quando finalmente deixar de ser serei o que ambiciono. É complicado, mas não vergonhoso. Por que deveria eu negar o que sou? Não o negarei, mesmo que seja o contrário do que queira fazer. Não idealizarei nada. Tentarei antes desmistificar uma série de coisas. Eu sou a pedra que rola da ribanceira, ou ao menos tenho tal pretensão. Este livro significa que sou humano. É uma busca. Nela vesti muitas capas: prosador, poeta, filósofo, psicólogo, místico. A sociedade é perfectível. Minha demanda não é pela perfeição individual, mas pela social. Só quando toda a sociedade for um ídolo de ouro maciço poderá haver perfeição individual. Ou seja: minha realização esbarra em todas as utopias já criadas ou a criar.