Ele pode ser definido como estranho, incomum. Sem amigos, sem mulher, sem amor. Só. O seu mundo é ele e não cabe mais ninguém. Apesar disso, não era mau, desumano ou desalmado. Gostava de pessoas à distância, sem contato, sem intimidade. Queria delas apenas suas aparências, suas fisionomias, sentimentos e emoções para criar uma vida para elas que lhe permitisse viver a sua.
Mesmo distante daquelas pessoas que passavam debaixo de sua janela, conseguia criar a partir delas personagens coerentes com os modos e comportamentos comuns naquele lugar e deixara uma herança de sujeitos que, ainda que não fossem verdadeiros, eram verossímeis, plausíveis. Criou um padrão de famílias, ainda que só para ele mesmo.
Viveu de histórias, das histórias que criou. Não importava que fossem uma ilusão, eram elas que davam sentido à sua vida e era com elas que ele conseguia viver. Viveu só, não incomodou ninguém e, ao seu modo, foi feliz. Não tirou nada de qualquer pessoa e não deixou nada para ninguém. Morreu sem ninguém ao seu lado, como em toda a sua vida. Descansou em paz.