O presente livro busca compreender como a Inquisição portuguesa representava-se diante da sociedade portuguesa na primeira metade do século XVII, entre os anos de 1605 e 1643 (isto é, em meio ao contexto do perdão-geral aos cristãos-novos e à batalha com a Companhia de Jesus de Évora pelo privilégio da compra de mantimentos). Lançamos, portanto, a nossa hipótese de que foi por meio dos discursos produzidos pelos inquisidores e membros do Tribunal que a Inquisição se viu no espelho, em outras palavras, representou a si mesma ao se defender contra aqueles que a criticavam. Para alcançarmos tal hipótese, precisaremos compreender e analisar os pormenores que a delimitarão. Desse modo, é de suma importância interpretar historicamente a cultura jurídica luso-cristã, de natureza político-teológica, expressa nos manuais e regimentos, no intuito de entender a concepção de Justiça daqueles que processavam o delito e o crime de heresia. Assim, impõe-se a necessidade de analisar como os inquisidores representavam a atuação da Inquisição em relação às críticas promovidas no que tange às temáticas e aos grupos sociais que pelejaram contra o Santo Ofício. Por fim, identificaremos os argumentos e as personagens que participaram dessa batalha de representações.