O ano é 1837. A criação e regulamentação do ensino secundário a partir do Imperial Colégio de Pedro II refletem tanto tensões políticas do período Regencial quanto os anseios por nação e filiação ao mundo moderno e civilizado. Importa-se da França o modelo (regulamentos e disciplinas) e também compêndios escolares, tais como o curso – nos dois sentidos, disciplinar e da moderna metanarrativa histórica – de História, composto por cinco compêndios. O colégio inicia suas atividades em 1838, sendo Justiniano José da Rocha (1811-1862) professor de História e encarregado da tradução dos compêndios, tarefa inacabada pela sua demissão em 1840. Vinte anos depois, o polivalente Justiniano (político, professor, jornalista e editor) escreve e edita o seu próprio compêndio de História Antiga, adotado pelo colégio e vendido a Garnier, dois anos mais tarde.
A partir da articulação entre indivíduo, escrita da História Antiga e compêndio, enquanto um artefato complexo, este livro analisa disputas da cena política brasileira, disputas por autonomia intelectual entre a elite letrada, o processo de disciplinarização da História no secundário brasileiro, o mercado e a circulação de compêndios escolares, e, sobretudo, a historicidade da História Antiga.