A gramática normativa tradicional conservadora possui tantas regras quanto exceções. Por isto não há como olvidar o uso (e nenhum gramático de respeito o faz). Assim, não cabe mais falarmos em regras, mas em conselhos. Uma gramática ideal da língua portuguesa não deve ser nem normativa nem descritiva, mas conselheira. Por esta razão, proponho não o fim, mas a atenuação do debate bipolarizado gramática normativa x gramática descritiva, e a elaboração de uma gramática que se preocupe em ensinar o estudante a escrever e a falar aquilo que ele queira realmente falar, com o máximo de perfeição, precisão, estilo e profundidade possível. Uma gramática que não queira ensinar o que já se sabe, mas possibilite ao aluno e à humanidade a conquista de uma performance maior e melhor na expressão de suas ideias e mensagens, valendo-se do ensino na norma padrão culta e da norma padrão formal, já que a variedade coloquial já é de amplo domínio da maioria das pessoas. Esta gramática, através de conselhos, isto é, da recomendação (jamais da proibição!) de maneiras mais otimizadas de se expressar em ambientes internos e externos ao texto, exporá ao estudante as riquezas e possibilidades do léxico, da morfologia, da sintaxe e da semântica de língua portuguesa, desvelando as entranhas lógicas e líricas da língua, seus matizes. Por isto, tal gramática proponho ser chamada de Arte Gramatical da Língua Portuguesa, pois terá como foco capacitar o leitor no uso das modalidades culta e padrão da língua, não em todos os momentos, mas naqueles em que o falante/escritor quiser fazer a língua dizer, com perfeição, estilo e profundidade, o que se quer dizer. E, ao fazer isto, o mesmo indivíduo não cometerá um ato de soberba altivez e excludente preconceito para com seus interlocutores/leitores se estes, assim como aquele, também conhecerem a Arte Gramatical, ou seja, a própria Gramática. Não concordo, portanto com BAGNO que devamos afrouxar o ensino das normas gramaticais e adotar o ensino lastrado na língua oral. Concordo com NMA quando diz que a causa-máter dos nossos problemas era o número insuficiente de escolas. Mas, hoje, este problema já está quase totalmente resolvido, e, não obstante, o conhecimento gramatical e o desempenho expressivo (leitura e composição) dos nossos alunos continua pífio. A formação dos professores precisa melhorar. Condenar a norma ou idolatrá-la são posições extremadas que não trazem benefício. Ficar em quaisquer destes dois extremos não é positivo para o ensino-aprendizagem de língua portuguesa. Assim, uma flexibilização aqui e ali pode ajudar muito, e a que vejo como sumamente importante é, como disse, a dissolução do embate entre os gramáticos conservadores e os progressistas e a adoção de uma gramática que construa e recomende ao invés de destruir e proibir.