Num período pré-redes sociais e televisão incipiente no Brasil, os jornais eram os principais senhores da memória da sociedade brasileira. Foram eles os grandes responsáveis pela construção da imagem de Barbosa, o goleiro da seleção brasileira na Copa de 50. Ou melhor, das diferentes imagens: de melhor goleiro do Brasil a único culpado pela derrota na partida final, de abandonado em busca de socorro a injustiçado. Após o 7 a 1 ― o livro trata de trama desenrolada décadas antes ―, houve até iniciativas, tímidas, de absolvição. Os fatos do passado não mudam, mas a forma como olhamos para eles, sim. E isso diz mais sobre a sociedade do presente do que sobre o que se passou cinquenta, sessenta anos atrás. Este livro tem o objetivo, mais afetivo do que pretensioso, de jogar novas luzes na forma como é percebido personagem tão emblemático quanto sofrido, sem que se arvore em definir uma imagem definitiva para Barbosa, por entender tratar-se de tema de dinâmica, por vezes, alucinante. Para isso, optou-se por retratar o ex-goleiro com uma abordagem holística, como personagem simbólico da grande e complexa aventura da vida, particularmente num universo como o futebol, em que glória e tragédia convivem como vizinhos de porta. Talvez, também, a obra ajude a pensar se, num esporte tão dependente do coletivo, a insistência em destacar heróis e vilões individualmente não reflete, nas arquibancadas e no jornalismo, o individualismo exacerbado que atravessa nossa sociedade.