O livro A gente só é, e pronto! Uma análise linguístico-discursiva sobre os impactos da LGBTIfobia na escola nasceu a partir dos vários questionamentos que emergiram após a gradual desistência de estudantes LGBTQIA+ de um projeto escolar que era uma demanda genuína do grupo, o "Portas Abertas". Nas palavras do autor, esse movimento desencadeou um processo de reflexividade crítica que buscou "compreender como agem os diferentes mecanismos de propagação e de manutenção do discurso LGBTIfóbico dentro do ambiente escolar". Um discurso que é parte indissolúvel de uma prática social que silencia as vozes dos/as estudantes LGBTQIA+, deslegitima suas demandas específicas e impacta de diferentes formas seus corpos físicos/políticos.
Para observar como as relações de poder influenciam na repercussão do discurso LGBTIfóbico, o autor investiga quatro escolas públicas de ensino médio situadas em uma região periférica do Distrito Federal, primando por participantes situados/as em status de poder assimétrico nessas instituições (gestão, docência e discência). Entretanto é possível notar que os/as principais participantes são os/as estudantes LGBTQIA+ com suas narrativas, pois, a partir de suas vozes, insights sobre a prática social escolar se manifestam mais facilmente, além de outros aspectos dos processos de representação e de identificação que também são ressaltados em seus relatos.
O autor constata a existência de mecanismos linguístico-discursivos que servem ao propósito da vigilância e da disciplina dos corpos que subvertem a norma cis-heterossexual, os quais podem variar mais ou menos quanto à explicitude ou à veladura. Nesse contexto, percebe-se que os agentes do discurso LGBTIfóbico estão posicionados nas relações de poder assimétricas em ambos os eixos hierárquicos (vertical e horizontal) e que os mecanismos discriminatórios se intensificam quando o discurso de ódio é legitimado por figuras de prestígio. Além disso, o autor aponta diferentes impactos sobre esses corpos deslegitimados, como a anulação, o silenciamento, entre outros que, por vezes, materializam-se interseccionalmente.
Apesar dos efeitos negativos do discurso LGBTIfóbico, o autor aborda estratégias de enfrentamento e ações afirmativas por parte dos vários integrantes da escola, em especial dos/das estudantes LGBTQIA+, mostrando o poder dos agentes sociais para que as mudanças discursivas aconteçam na escola e possam engendrar mudanças sociais efetivas. Por sua linguagem fluida, pelas análises cirúrgicas baseadas em um campo teórico transdisciplinar e pela relevância social da temática, esta se torna uma leitura necessária a todos/as que se interessam pela pesquisa social-crítica em que grupos minoritários estejam em situação de desigualdade social, e para aqueles/as que reconhecem a escola como um lugar que, também, oprime, mas que tem todas as possibilidades de libertar.