Não cabe aqui uma valorização da contribuição analítica deste trabalho, pois já foi feita várias vezes e é hoje uma referência indispensável nos estudos de Drummond. Na época, no entanto, era também uma provocação metodológica, pois pela primeira vez Gilberto formulou suas premissas teóricas em contraste com as duas correntes predominantes na teoria da literatura, a corrente historicista de cunho marxista, por um lado, e a corrente estruturalista seguindo a ortodoxia francesa, articulada inicialmente por Levy-Strauss e aplicada na literatura por teóricos como Barthes, Kristeva e Todorov.
Sem dúvida, Gilberto se encontrava mais próximo da segunda corrente que da primeira, mas sua leitura do estruturalismo era inspirada simultaneamente pelas questões propriamente poéticas que se encontravam mais bem articuladas na tradição estilística de Bally, Vosler e Spitzer. A abordagem inicial de Gilberto sistematizou a leitura da poesia de Drummond em torno do recurso de repetição nos diferentes níveis da linguagem e ofereceu assim um fundamento analítico para situar Drummond em relação ao modernismo, pelas repetições binárias, por exemplo, e ao mesmo tempo distinguir sua poesia pela singularidade expressiva, por exemplo, das repetições ternárias. Para Gilberto a estilística ofereceu assim uma ferramenta para desvendar a "luta contínua para exprimir mais e mais, sendo que a repetição parece ter origem nessa ânsia de superação do indizível" como conclui a análise de Drummond.