Em uma noite sinistra, os traumas da ditadura brasileira são revisitados em um apartamento da Zona Sul do Rio de Janeiro, quando dois irmãos precisam cuidar do patriarca, Abel, cujos segredos da época da repressão voltam a assombrar a nova geração.
A epidemia de covid-19 esvaziou as ruas do Rio de Janeiro, e o risco da doença serve de desculpa para que a madrasta de Marco o telefone pedindo um favor: passar uma noite no apartamento requintado de seu pai, Abel, que se encontra acamado e não pode ficar a sós.
Assim começa a narrativa intensa de A febre, retorno de Marcelo Ferroni à literatura de terror. O que poderia ser cenário de um acerto de contas realista entre duas gerações — a de um pai orgulhoso de sua participação no regime militar com a de um filho que buscou abandonar o passado — logo ganha contornos sobrenaturais.
Ao aliar precisão literária com um apreço pela potencialidade da ambientação da casa mal-assombrada, o autor faz de A febre uma alegoria pungente de um Brasil com muitos esqueletos no armário ansiando em ver a luz do dia.