O que causa fascínio nesta história do menino que colecionava bolinhas de gude é a forma como é conduzida a narrativa: fértil, impregnada de alegria, uma homenagem à vida do personagem central, menino travesso, moleque feliz e brincalhão. É um retorno delicioso ao encantado mundo das brincadeiras de rua e a constatação do quanto éramos felizes. Dentro desse cenário lúdico, sobressai-se o protagonismo infantil, adaptado a momentos deslumbrantes da vida dos personagens, que se projetam no tempo prazeroso de uma existência repleta de diversões. O livro revela como o prazer de jogar transmuda-se em paixão pelo ato de colecionar, tendo como fio condutor o valor sentimental pelas bolinhas conquistadas, ato quase sempre transformado em ostentação pelo menino cabotino. Ponto central da narrativa, o imponderável sumiço da coleção de bolinhas de gude abre o leque de discussões acerca da correção do ato de doar. A história atinge seu apogeu com a revelação sobre o mistério do nome do personagem central, causando surpresas e suscitando dúvidas, estrategicamente deixadas, para o convencimento do leitor.