Narrar exige o risco. E Eduardo, um tradutor literário de profissão, o encara naqueles que serão os seus últimos dias de vida, pois tem algo muito importante para revelar à sua filha, Antônia, sua sempre interlocutora.
Algo que envolve contar desde a sua infância e adolescência no interior mineiro, ao contato com a luta armada no rio de janeiro pós-64, ao exílio involuntário, à vida com Iolanda, sua médica, confidente, mulher, mãe de sua filha (e...), e à eterna e constante descoberta do corpo, do sexo, da literatura, da música, da arte. Entremeando tudo isso, a trama central envolvendo os três personagens e as reviravoltas em suas vidas.
Um narrar que é uma reflexão sobre o ato de narrar, trazendo ares de um metarromance em que o narrador/autor se vale larga e radicalmente da intertextualidade, da citação, da montagem para construir uma história que mais é uma ode à vida, explodida e vivida em suas últimas consequências, palavras e suspiros. O que coloca em evidência o verso-emblema de William Blake, quase um coprotagonista nesta obra: tudo que vive é sagrado; que, por sua vez, ecoa na conhecida fala de um personagem de Tennessee Williams: nada que é humano me enoja.
Mário Alves Coutinho é mineiro, nascido em Campo Belo, graduado em psicologia, doutor em Literatura Comparada (Faculdade de Letras, UFMG), com pós-doutorado no Departamento de Comunicação Social da UFMG. Tradutor de William Blake e D. H. Lawrence, especialista e autor de dois livros sobre o cineasta Jean-Luc Godard. Este é seu primeiro romance.