Grandes narradores, como Graciliano Ramos, conseguem atingir a essência dos problemas sociais e, com isso, representam com muito mais exatidão a totalidade viva e dinâmica das contradições da sociedade em que vivem e da relação que os indivíduos estabelecem entre si, em suas ações, sofrimentos e destinos individuais. Em Angústia (1936), somos conduzidos a uma reflexão sobre a sociedade, sobre as nossas condutas e sobre como se estabelecem as relações entre os indivíduos num mundo reificado, condicionado ao desenvolvimento das forças produtivas. Com efeito, tem-se uma obra que ultrapassa o seu tempo, apresentando as relações humanas e seus conflitos sem se deixar contaminar por questões particulares, nos conduzindo à reflexão de como a sociedade age na interioridade dos indivíduos, bem como suas existências são produzidas com base nas decisões que tomam, sem assumir com isso uma posição simplória ? através de suas personagens ? de que o indivíduo é produto do seu ambiente. Neste livro, o método de investigação sobre a estética literária de Graciliano Ramos e a constituição da personalidade do narrador-personagem Luís da Silva tem como principais aportes teóricos as obras de maturidade de Georg Lukács: Estética (1963) e Para a ontologia do ser social (1960-1971), além de outras produções do filósofo húngaro que abordam a arte e a especificidade literária, como também obras de críticos e pesquisadores em literatura, e de historiadores