A esperança remete-nos à capacidade do homem de se superar a si mesmo e de se reconhecer na dependência de algo que o complete verdadeiramente, pois a própria superação de si revela algo que não pode alcançar sozinho, mas precisa ser auxiliado por uma graça. Marcel vê uma possibilidade de o homem ir além de suas manifestações sensíveis. A máxima marceliana "Espero em ti por nós" é a síntese de todo este trabalho, pois a esperança é exatamente a disponibilidade de uma alma em sua abertura à novidade; é o reconhecimento de que sozinho não posso superar minhas limitações e os caminhos que me levam a errar, pois seria eu isolado de tudo e unido somente à minha consciência, enquanto que o eu que espera é uma afirmação que supera o querer e o conhecer afirmando a experiência do relacionamento como fonte da própria capacidade de não desesperar. Não existe na relação um desejo egoísta, mas uma troca de vivências que colabora no aperfeiçoamento de ambos os relacionados. Aqui tocamos o ponto chave da metafísica, no qual o testemunho tem caráter de anúncio de uma vida superior aos meus planos. Desta forma, as experiências pretéritas, que no testemunho pude recolher, dão uma autenticidade sobre a possibilidade de acontecer aquelas experiências novamente. Para Marcel, portanto, a experiência tem peso ontológico, e com isso, as relações e as meditações são sempre oportunidades de se aprofundar na vivência com o Outro, nosso Criador. O homem tem que passar da existência ao Ser, para tal é necessário reconhecer a vocação pessoal e respondê-la por meio de um compromisso livre. A verdadeira liberdade se realiza na comunhão, no diálogo, pois é aí o momento me que tomo consciência, mas posso também não ter consciência direta de algumas experiências, como é o caso da participação com o mundo, com o outro, que me encontro envolvido antes mesmo de ter consciência. Para tal passagem é necessária a humildade, a oração ou prece e a paciência.