Quando estava cursando acupuntura, fascinado com toda a sabedoria da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), ingressei na universidade de psicologia. Não demorou muito para que eu notasse a frequência com que os colegas acupunturistas me perguntavam sobre questões da psicologia. Natural, já que ao nos colocarmos como terapeutas, o discurso e a relação humana são partes integrantes da prática profissional. Não conheci nos livros clássicos da acupuntura uma perspectiva para intervir no conteúdo de construção simbólica dos sujeitos. Além disso, era um desafio para alguém no início da psicologia explicar as abordagens e tantos conceitos e jargões. Afinal, são complexos e importantes de serem desenvolvidos para se compreender uma abordagem psicológica em toda sua profundidade e amplitude. Naturalmente fui construindo uma percepção da psicologia com base nos fundamentos da lógica oriental e suas metáforas. Ao meu ver, nos aproxima de perceber a Essência, assim organizando o conteúdo. Após prática, estudo e diversos debates (internos e externos), consegui me aproximar de um diálogo das diversas psicologias sem grandes conflitos, ao menos segundo minha perspectiva. No final das contas, esse livro representa uma parcela de como realizo meu raciocínio clínico e a forma como conecto os conhecimentos da sabedoria oriental com todo avanço da psicologia. Mesmo que a Medicina Tradicional Chinesa não tenha sistematizado um entendimento das questões psíquicas como a psicologia o fez, acredito que há espaço para essa construção e consolidação, tendo em vista seu refinado sistema de avaliação energética que abrange o corpo e a mente. A MTC não trata o corpo de maneira direta e sim através da energia, que é mais sutil. A visão oriental não é focada no conteúdo psíquico e sim em seus efeitos e padrões. Proponho integrar em seu corpo teórico, posicionamentos que instiguem não só o entendimento, como também a intervenção dos conteúdos psíquicos como fundamentos da relação terapêutica. Me parece razoável que o terapeuta que se vale de técnicas energéticas, absorva informações do campo da experiência dos sujeitos para oferecer uma escuta adequada. Que seja capaz de identificar com maior assertividade quando um paciente precisa ser acompanhado por um especialista da escuta clínica. Contudo, escrevo esse livro para todos que querem se sentir um pouco mais terapeutas, ou seja, que desejam escutar melhor as pessoas e contribuir para o desenvolvimento humano. E isso pode acontecer em diversos contextos, sejam profissionais ou não.