Investir no próprio capital humano, empreender, inovar, aprender a vida toda, ser criativo, competitivo e flexível são demandas contemporâneas, na corrida pelo sucesso profissional, financeiro, pessoal. Mas quem consegue entrar nessa corrida? Quem entra, mas não consegue avançar? É preciso pensar no precariado que é produzido nesse jogo biopolítico, produzido porque as desigualdades são necessárias para a governamentalidade neoliberal – precisa-se do trabalho "barato". Na equidade não haveria competição.
Parece-me que restam poucas linhas de fuga à governamentalidade neoliberal. Se jogar o jogo neoliberal é inevitável, se o trabalho não vai mais voltar a ser seguro, é preciso que a educação profissional atente para a contingencialidade e a velocidade das transformações no mundo atual e se posicione como agenciadora da formação geral, científica e tecnológica, já na educação básica. Flexibilidade, disponibilidade 24 horas, adaptabilidade, trabalho temporário, terceirização, competição, de fato poderão não libertar as pessoas, mas tornar precária a existência de muitas delas. Entre crises, reformas e após uma pandemia, fica difícil visualizar modos de enfrentamento a todo esse contexto turbulento e incerto. Enquanto a poeira não baixa, o vendaval que arrasta muitos à precariedade – e que já se formava antes da pandemia – convoca cada um a pensar em sua intensidade, em seu processo de produção, em seus efeitos e nas possibilidades que se tem de resistir a tudo isso.